segunda-feira, 2 de setembro de 2013

Conto Grupo 1

O Pobre Cocozinho...



Era uma vez um cocô. Um cocozinho feio e fedidinho, jogado no pasto de uma fazenda. Coitado do cocô! Desde que veio ao mundo, ele vinha tentando conversar com alguém, fazer amigos, mas quem passava por ali não queria saber dele: 
- Hum! Que coisa fedida! - diziam as crianças.
 
- Cuidado! Não encostem na sujeira! - avisavam os adultos.
 

E o cocozinho, sozinho, passava o tempo cantando, triste:
 
Sou um pobre cocozinho
 
Tão feinho, fedidinho
 
Eu não sirvo para nada
 
Ninguém quer saber de mim...
 

De vez em quando ele via uma criança e torcia para que ela chegasse
 
perto dele, mas era sempre a mesma coisa:
 
- Olha a porcaria! - repetiam todos.
 
Não restava nada para o cocô fazer, a não ser cantar baixinho:
 

Sou um pobre cocozinho
 
Tão feinho, fedidinho...
 

Um dia ele viu que um homem se aproximava; já imaginando o que ia acontecer, o cocozinho se encolheu. "Mais um que vai me xingar", pensou. Mas... Oh! Surpresa! O homem foi chegando, abrindo um sorriso, e seu rosto se iluminou:
 
- Mas que maravilha! Que belo cocô! Era exatamente disso que eu precisava. O cocô nem acreditava no que estava ouvindo. Maravilha, ele? Precisando?
 
Aquele homem devia ser maluco! Pois aquele homem não era maluco, não. Era um jardineiro.
 
E, usando uma pá, com todo o cuidado, ele levou o cocozinho para um lindo jardim.
 
Ali, acomodou-o na terra, ao pé de uma roseira. E, depois de alguns dias, o cocozinho percebeu, feliz e orgulhoso, que, graças a sua força, a roseira tinha feito brotar uma magnífica rosa vermelha, bela e perfumada.

Rosane Pamplona


segunda-feira, 17 de junho de 2013

CANÇÃO MARVIN

Marvin

Meu pai não tinha educação
Ainda me lembro
Era um grande coração
Ganhava a vida
Com muito suor
E mesmo assim
Não podia ser pior
Pouco dinheiro
Prá poder pagar
Todas as contas
E despesas do lar...
Mas Deus quis
Vê-lo no chão
Com as mãos
Levantadas pr'o céu
Implorando perdão
Chorei!
Meu pai disse:
"Boa sorte"
Com a mão no meu ombro
Em seu leito de morte
E disse:
"Marvin, agora é só você
E não vai adiantar
Chorar vai me fazer sofrer"...
E três dias depois de morrer
Meu pai, eu queria saber
Mas não botava
Nem os pés na escola
Mamãe lembrava
Disso a toda hora...
E todo dia
Antes do sol sair
Eu trabalhava
Sem me distrair
As vezes acho que
Não vai dar pé
Eu queria fugir
Mas onde eu estiver
Eu sei muito bem
O que ele quis dizer
Meu pai, eu me lembro
Não me deixa esquecer
Ele disse:
"Marvin, a vida é prá valer
Eu fiz o meu melhor
E o seu destino
Eu sei de cor"...
-"E então um dia
Uma forte chuva veio
E acabou com o trabalho
De um ano inteiro
E aos treze anos
De idade eu sentia
Todo o peso do mundo
Em minhas costas
Eu queria jogar
Mas perdi a aposta"...
Trabalhava feito
Um burro nos campos
Só via carne
Se roubasse um frango
Meu pai cuidava
De toda a família
Sem perceber
Segui a mesma trilha
E toda noite minha mãe orava
Deus!
Era em nome da fome
Que eu roubava
Dez anos passaram
Cresceram meus irmãos
E os anjos levaram
Minha mãe pelas mãos
Chorei!
Meu pai disse:
"Boa sorte"
Com a mão no meu ombro
Em seu leito de morte
E disse:
"Marvin, agora é só você
E não vai adiantar
Chorar vai me fazer sofrer"
"Marvin, a vida é prá valer
Eu fiz o meu melhor
E o seu destino eu sei de cor"...(2x)


segunda-feira, 27 de maio de 2013

A ÚLTIMA CRÔNICA

                                                                 
                                                                                                              
                                                                                        Fernando Sabino
A caminho de casa, entro num botequim da Gávea para tomar um café junto ao balcão. Na realidade estou adiando o momento de escrever. A perspectiva me assusta. Gostaria de estar inspirado, de coroar com êxito mais um ano nesta busca do pitoresco ou do irrisório no cotidiano de cada um. Eu pretendia apenas recolher da vida diária algo de seu disperso conteúdo humano, fruto da convivência, que a faz mais digna de ser vivida. Visava ao circunstancial, ao episódico. Nesta perseguição do acidental, quer num flagrante de esquina, quer nas palavras de uma criança ou num acidente doméstico, torno-me simples espectador e perco a noção do essencial. Sem mais nada para contar, curvo a cabeça e tomo meu café, enquanto o verso do poeta se repete na lembrança: "assim eu quereria o meu último poema". Não sou poeta e estou sem assunto. Lanço então um último olhar fora de mim, onde vivem os assuntos que merecem uma crônica.
Ao fundo do botequim um casal de pretos acaba de sentar-se, numa das últimas mesas de mármore ao longo da parede de espelhos. A compostura da humildade, na contenção de gestos e palavras, deixa-se acrescentar pela presença de uma negrinha de seus três anos, laço na cabeça, toda arrumadinha no vestido pobre, que se instalou também à mesa: mal ousa balançar as perninhas curtas ou correr os olhos grandes de curiosidade ao redor. Três seres esquivos que compõem em torno à mesa a instituição tradicional da família, célula da sociedade. Vejo, porém, que se preparam para algo mais que matara fome.
Passo a observá-los. O pai, depois de contar o dinheiro que discretamente retirou do bolso, aborda o garçom, inclinando-se para trás na cadeira, e aponta no balcão um pedaço de bolo sob a redoma. A mãe limita-se a ficar olhando imóvel, vagamente ansiosa, como se aguardasse a aprovação do garçom. Este ouve, concentrado, o pedido do homem e depois se afasta para atendê-lo. A mulher suspira, olhando para os lados, a reassegurar-se da naturalidade de sua presença ali. A meu lado o garçom encaminha a ordem do freguês. 
O homem atrás do balcão apanha a porção do bolo com a mão, larga-o no pratinho - um bolo simples, amarelo-escuro, apenas uma pequena fatia triangular. A negrinha, contida na sua expectativa, olha a garrafa de Coca-Cola e o pratinho que o garçom deixou à sua frente. Por que não começa a comer? Vejo que os três, pai, mãe e filha, obedecem em torno à mesa um discreto ritual. A mãe remexe na bolsa de plástico preto e brilhante, retira qualquer coisa. O pai se mune de uma caixa de fósforos, e espera. A filha aguarda também, atenta como um animalzinho. Ninguém mais os observa além de mim. 
São três velinhas brancas, minúsculas, que a mãe espeta caprichosamente na fatia do bolo. E enquanto ela serve a Coca-Cola, o pai risca o fósforo e acende as velas. Como a um gesto ensaiado, a menininha repousa o queixo no mármore e sopra com força, apagando as chamas. Imediatamente põe-se a bater palmas, muito compenetrada, cantando num balbucio, a que os pais se juntam, discretos: "Parabéns pra você, parabéns pra você..." Depois a mãe recolhe as velas, torna a guardá-las na bolsa. A negrinha agarra finalmente o bolo com as duas mãos sôfregas e põe-se a comê-lo. A mulher está olhando para ela com ternura - ajeita-lhe a fitinha no cabelo crespo, limpa o farelo de bolo que lhe cai ao colo. O pai corre os olhos pelo botequim, satisfeito, como a se convencer intimamente do sucesso da celebração. Dá comigo de súbito, a observá-lo, nossos olhos se encontram, ele se perturba, constrangido - vacila, ameaça abaixar a cabeça, mas acaba sustentando o olhar e enfim se abre num sorriso. 
Assim eu quereria minha última crônica: que fosse pura como esse sorriso."

Análise do texto "A Última Crônica"
   
      No texto "A última crônica", o autor Fernando Sabino começa mostrando, aparentemente, uma rotina que foi modificada por um acontecimento  - um aniversário - comemorado de maneira diferente, inusitada
              Utilizou os elementos de uma narrativa, descrevendo o lugar dos fatos ("a caminho de casa, entro num botequim da gávia"), apontando o tempo  ("mais um ano nesta busca"), narra em primeira pessoa (" assim, eu quereria a última crônica") e evidencia as personagens ("um casal de pretos"/ "a negrinha") que são seres reais.
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          Escreveu o texto em primeira pessoa, transmitindo a impressão de que realmente viveu a situação. Ele se posicionou em relação á cena, demonstrando sua sensibilidade, seus sentimentos ("perco a noção do essencial") / a ("assim eu quereria a última crônica, pura como esse sorriso”).
            A crônica leva-nos forçosamente a uma reflexão, quando nos emocionamos com a cena descrita: Uma família humilde, mas que não deixa a dura realidade da pobreza afetar o amor, o carinho familiar.
          O título é interessante, porque ele "joga" com as palavras. Comprovo no desfecho que não é a última crônica.
           Um excelente texto, pois nos leva a pensar nas questões sociais e familiares.
Bom, vamos então ao que mais nos interessa “A Última crônica”. Basicamente esta crônica nos mostra que para sermos felizes devemos perceber cada pequeno detalhe do que acontece ao nosso redor e valorizar cada momento de alegria que temos.